segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vitor Negrete explica processo de aclimatação e o que é zona da morte

Achei bem legal essa explicaçãodo Vitor sobre aclimatação e decidi compartilhar com a galera!

Autor: Vitor Negrete
Data: 24/5/2006

Para chegarmos ao cume do Everest precisamos considerar duas variáveis: a aclimatação e a janela de tempo. Uma pessoa colocada no cume do Everest perderia a consciência em minutos e, em algumas horas, provavelmente morreria. Para se chegar ao cume do Everest, com ou sem oxigênio, o alpinista precisa passar pela chamada aclimatação. A aclimatação é o processo pelo qual gradualmente nos adaptamos à falta de oxigênio no ar.

No cume do Everest temos praticamente um terço do oxigênio presente no nível do mar. As transformações fisiológicas que ocorrem durante a aclimatação fazem com que as células recebam mais oxigênio e o aproveitem melhor. Com a falta de oxigênio respiramos mais rápido e profundamente, o que causa uma alteração no pH do sangue (alcalose). Esta alteração no pH dificulta a troca gasosa no pulmão e a incorporação de oxigênio no sangue. À medida que nos aclimatamos ocorre uma compensação gradual dos rins, que excretam bicarbonato para ajustar o pH do sangue para um valor normal, o que permite a incorporação de oxigênio no sangue durante a troca gasosa que ocorre nos pulmões. Com a aclimatação também ocorre uma multiplicação dos glóbulos vermelhos presentes no sangue para tornar a troca gasosa nos pulmões mais eficiente. Estas transformações representam a luta do nosso corpo para sobreviver em um ambiente no qual existe menos oxigênio no ar.

A aclimatação tem um forte componente genético e cada pessoa se aclimata de uma forma diferente. Alguns se aclimatam rapidamente e outros nunca se aclimatam. A capacidade de se adaptar à falta de O2 independe do condicionamento físico. Triatletas e maratonistas podem ter maior dificuldade de adaptação do que uma pessoa sedentária, mas é claro que, considerando duas pessoas que se aclimatam bem, quanto maior o condicionamento físico, melhor.

Uma forma de estimular e acelerar o processo de aclimatação é o que chamamos de "andar alto e dormir baixo". Nós saímos do ABC (Advanced Base Camp) a 6400m, subimos até o colo norte da montanha a 7100m e no mesmo dia voltamos para o ABC. No dia seguinte descemos para o BC (base camp) a 5200m e no dia seguinte descemos de carro até a vila de Tingri a 4300m. Esta subida e descida tem como objetivo estimular e acelerar a aclimatação do nosso corpo. Para nos adaptarmos à falta de oxigênio precisamos estar bem alimentados, saudáveis e contar com uma quantidade mínima de oxigênio. Na descida é aconselhável permanecer abaixo dos 5000-5000m. Se descansarmos acima dos 5500m, existe uma competição no nosso corpo entre a adaptação e a deterioração devido à falta de oxigênio. À medida que subimos, a falta de O2 aumenta e com ela a deterioração do organismo. Assim, cada subida deve ser planejada considerando o tempo de permanência e o estado da pessoa para aquela altitude. Acima dos 8 mil metros a deterioração é extrema e é impossível sobreviver. Esta região é chamada de zona da morte por alguns autores.

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